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sete dias como a seven days diet. como a vela de sete dias.

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cada dia uma coisa
terça-feira, março 30, 2004

Para não parar no campo de centeio

por Jorge Wakabara

Um monte de gente diz que o livro da sua vida é "O Apanhador no Campo de Centeio". Dizem até que o Washington Olivetto, de tão apaixonado pela obra, guarda um estoque em casa para dar pra amigos que ainda não leram. Holden Caulfield personifica o ritual de passagem, a negação da liberdade como ela antes era apresentada - se a criança deseja ser adulta para tornar-se mais "independente", o adolescente percebe que tudo tem seu preço e o ato de assumir um papel na sociedade te impede de ser tão emancipado quanto se acreditava. Portanto, "O Apanhador no Campo de Centeio" é Best Seller: todo mundo acha que é o melhor livro de Salinger, todo mundo recomenda para adolescentes e adultos, todo mundo lê e deixa ele ali na cabeceira. Mas o colunista aqui odeia verdades instauradas. Que tal checar com nossos próprios olhos se as outras coisas que o autor fez são "menos importantes"? J D Salinger possui mais três livros publicados no Brasil: "Franny e Zooey", "Carpinteiros, levantem bem alto a cumeeira e Seymour: uma apresentação" e "Nove estórias". Apesar de serem livros com histórias teoricamente independentes, existe um elo entre eles.

Família Glass

O Apanhador no Campo de Centeio é a única obra de Salinger que não traz a participação da família Glass. A primeira "aparição" do personagem Seymour Glass (na pronúncia em inglês, o nome adquire significado: "see more glass" - ver mais vidro) aconteceu em 1948, com o conto "Um dia ideal para os peixes-banana": nota-se sensibilidade e um texto enxuto, cheio de entrelinhas, que os leitores e críticos continuam recheando, cada qual ao seu modo. À medida que outros textos vão surgindo, o leitor começa a perceber a árvore geneológica dos Glass: Buddy Glass recorda o dia do casamento de seu irmão Seymour em "Carpinteiros, levantem bem alto a cumeeira" - a terceira irmã, Boo Boo, também é citada. Walter e Waker Glass, os gêmeos, são citados em alguns textos - "Tio Wiggily em Connecticut" traz um momento na vida da ex-namorada de Walter, Eloise; já Waker é um padre católico sobre quem se sabe quase nada. Franny e Zooey (ver livro "Franny e Zooey") são os caçulas e moram com os pais, comediantes aposentados.
Qualquer semelhança com A Excêntrica Família Tenenbaums talvez não seja mera coincidência: todos os filhos foram crianças prodígio e trabalharam em um programa de rádio do tipo "Gente inocente". Ao crescerem, não se transformam exatamente no que eu chamaria de adultos problemáticos. Antes disso, seguindo o exemplo do primogênito Seymour, são apresentados como sensíveis, cheios de dúvidas, e de certa forma deslocados em uma sociedade em que todos apenas cumprem seu papel e não se indagam à respeito de questões existenciais.
Em "Carpinteiros...", por exemplo, Buddy acaba enfiado em uma limusine com outros convidados ao casamento e fica sabendo por que a cerimônia na verdade não acontecerá: Seymour afirmou para a noiva na noite anterior que se encontrava "feliz demais para se casar" e acabou convencendo-a a fugir com ele.
Seymour, portanto, é a imagem de poeta sensível - o personagem é autor de haikais e, aos nossos olhos, transcende o conceito de "louco" para aterrissar num campo de espiritualidade que, na nossa sociedade materialista, soa absurdo. Constantemente, os textos de J D Salinger nos fazem pensar a respeito da nossa espiritualidade e sensibilidade diante dos estímulos fornecidos pela nossa vida cotidiana.

Para quem procura o singelo, o terno, o misterioso inerente a todo ser-humano:
Nove estórias - Editora do Autor
Franny e Zooey - Editora do Autor
Carpinteiros, levantem bem alto a cumeeira e Seymour: uma apresentação - Companhia das Letras

Fábio Leal @ 12:29 PM

domingo, março 28, 2004

Mitchell Cohen e a “esquerda pluralista”

Na semana passada eu estava zapeando pela TV a cabo, quando encontrei uma entrevista aparentemente interessante. O canal era o Globonews, e o entrevistado, o cientista político Mitchell Cohen, editor da revista norte-americana Dissent, "uma revista de esquerda pluralista".

Segundo o apresentador do programa, a revista Dissent havia estado sempre na dianteira do pensamento da esquerda democrática norte-americana nos últimos 50 anos. O programa então começou com uma afirmação sobre as próximas eleições dos EUA, mais precisamente sobre os dois candidatos de maior destaque: o democrata John Kerry e o atual presidente, George Bush, do lado republicano.

O apresentador afirmara que não havia grandes diferenças nas propostas dos dois candidatos. O que distinguiria um do outro seria o estilo, e não propriamente o conteúdo de seus programas de governo. Parte daí o questionamento que permearia todo o resto da entrevista: qual a situação e o papel da esquerda no mundo atual?

Cohen, então, passou a elencar o que ele considera os “erros da esquerda” nos últimos anos. Segundo o cientista político, a esquerda passa por o que ele chama de uma “crise intelectual”, conseqüência do processo de globalização. Para ele, a esquerda não sabe acompanhar as mudanças de ordem mundial que vêm ocorrendo com o passar dos anos. Os movimentos anti-globalização, portanto, nada mais fazem do que repetir os mesmos erros da velha esquerda; falta a eles projetos consistentes nos campos social e político.

Para Cohen, a esquerda esteve equivocada ao condenar a ocupação do Iraque e a conseqüente derrubada do líder daquele país, Saddam Hussein. A invasão teria sido, segundo ele, plenamente justificada: pela natureza do regime de Saddam, que ele considera “fascista”; pela brutalidade “notável” desse regime, mesmo havendo no mundo outros regimes de natureza semelhante; pela suspeita de todos os serviços secretos do mundo da existência de armas de destruição em massa; e pelo rompimento de virtualmente todos os acordos feitos pelo regime, fossem eles com os curdos, com os iranianos, e mesmo com as Nações Unidas.

Ele rejeita a tese de que a existência de armas de destruição em massa tenha sido um pretexto dos governos britânico e norte-americano com o objetivo de se apropriar das reservas de petróleo do Iraque. Acha também que a invasão, mesmo sem o consentimento da ONU, foi legítima, muito embora discorde da forma como a questão vem sendo conduzida, de forma unilateral e sem a participação efetiva das Nações Unidas no processo de reconstrução do país.

Quando questionado se a ocupação do Iraque não seria mais um ato de imperialismo, Cohen é taxativo. Para ele, “imperialismo” é um slogan da esquerda atrasada. Cita com deboche o paquistanês Tariq Ali, chamando-o de “marxista linha-dura”. Ali teria afirmado que o mundo vive o mesmo problema desde o século 18, o imperialismo; o editor da Dissent, no entanto, rebate essa tese com veemência, defendendo quem os problemas do mundo mudaram desde então.

Com relação ao estado de Israel, Cohen defende a tese de que a esquerda recriou o anti-semitismo através do anti-sionismo. É contra a política de Israel, em especial com relação aos assentamentos, mas defende que o estado judeu tinha razão na guerra de 1967. Ressalta que o sionismo começou como um movimento da esquerda trabalhista. E critica os palestinos, afirmando que “soberania é uma coisa que se conquista”, destacando a “falta de liderança” da autoridade palestina, que seria menos influente que “os cinco grupos armados que mandam em tudo”.

Por fim, Cohen afirma ainda ter esperança na social-democracia, muito embora a América do Norte esteja cada vez mais distante dela.

E daí?

Mitchell Cohen parece esquecer de algumas coisas, como, por exemplo, que a globalização nada mais é do que o estágio mais recente do capitalismo, o que os estudiosos (os de esquerda, pelo menos) chamam de Capitalismo Tardio. Se movimentos anti-globalização repetem o que a esquerda sempre disse, é porque os problemas são, sim, os mesmos, embora estejam configurados de forma diferente (e daí a razão para eles utilizarem dos elementos do Capitalismo Tardio para se manifestar, como é o caso do culture jammin’ e dos movimentos antipublicidade em países como a França, por exemplo). Como disse a jornalista Naomi Klein, autora de “Sem Logo”, você não pode ser contra o neoliberalismo (e, por tabela, contra a globalização) e pró-capitalismo. Os movimentos anti-globalização questionam o capitalismo à sua maneira, da mesma forma que a “velha esquerda” fazia.

Os argumentos de Mitchell Cohen são ainda mais absurdos quando ele defende a invasão ao Iraque. Só pode ser ingenuidade acreditar na justificativa da coalizão para invadir o país. Na penúltima edição da revista Carta Capital, o ex-chefe do FBI no Brasil, Carlos Costa, afirma: “Jamais li documento secreto que indicasse a existência de destruição de massa no Iraque. O que li assegurava o contrário. Discuti com colegas do FBI e da CIA de qualquer parte do mundo e concordamos que Bush e Blair buscavam uma justificativa para a guerra”.

E, com relação a Israel, é no mínimo estranho alguém que se diz “anti-fascista antes de qualquer coisa” ser cínico ao ponto de culpar o anti-sionismo do “ressurgimento do anti-semitismo”. A política de Ariel Sharon, essa sim é de extrema direita, vide a construção do muro para dividir palestinos e israelenses.

No Brasil, o esquerdismo de Mitchell Cohen não faria feio num discurso do PSDB ou do PFL. O que me faz questionar se, para ele, não existe direita por aqui (eu penso justamente o contrário: acho que o Brasil se encontra, no momento, sem esquerda).

Só por curiosidade, entrei na página da Dissent na internet. De cara, me deparei com um artigo de José Serra. Ele mesmo, o que concorreu com Lula nas eleições presidenciais, atual presidente do PSDB.

Esquerda pluralista? Já entendi.


Haymone Neto @ 11:46 PM

sexta-feira, março 26, 2004

This would sharpen you up and make you ready for a bit of the old ultra-violence

Prometi a mim mesmo que fugiria como o diabo da cruz de falar sobre A Paixão de Cristo nesta primeira coluna. Não mudei de idéia, mas vou usar o filme de Mel Gibson como ponto de partida para outro assunto: a ultraviolência no cinema.

Não havia mais nada a acrescentar na história mais contada e vendida de todos os tempos (não esqueçamos que nenhum Senhor dos Anéis ou Harry Potter conseguiu tomar o lugar da Bíblia nas listas de best sellers), ainda mais depois de filmes contestadores como A Última Tentação de Cristo, de Scorsese, Je Vous Salue, Marie, de Godard, e até mesmo A Vida de Brian, do Monty Python. Gibson, então, resolveu que o diferencial do seu filme seria a forma: o martírio de Jesus é contado com uma riqueza impressionante de detalhes violentos. Uma carnificina poucas vezes vista até mesmo em filmes estrelados por Jason, Freddy Krueger e companhia. Ao ler as primeiras notícias sobre a violência da nova versão d’A Paixão, não pude deixar de pensar o seguinte: o filme precisava realmente disso?

Toda essa polêmica em torno de A Paixão de Cristo veio justamente na época em que assisti a outro filme famoso por suas cenas de violência explícita: Irreversível. Como todo mundo sabe, Irreversível é aquele filme em que Monica Belucci (curiosamente, a Maria Madalena da Paixão de Gibson) é estuprada durante quinze minutos e a platéia não é poupada de nada, pois a câmera é posicionada bem em frente à moça e seu algoz – sem cortes. O mais impressionante é que a platéia nem consegue se chocar da forma que deveria, pois alguns minutos antes já viu a cabeça de um homem ser esmagada por um extintor de incêndio. Tudo, também, da forma mais explícita permitida pelos efeitos especiais. O filme precisava realmente disso?

A resposta de Gaspar Noé, diretor de Irreversível, é afirmativa. Segundo o cineasta, ele não queria fazer um filme normal, e sim um “filme de sensações”. Tontura, medo, nojo, constrangimento, pena, horror. A proposta do cinema de sensações é louvável, mas não justifica o uso da ultraviolência. Irreversível e A Paixão de Cristo chocam? Chocam. Assim como choca qualquer episódio da série Faces da Morte (“proibida em vários países!”, lembram?). Assim como um programa policial no estilo Cidade Alerta vai chocar também. Posso estar sendo purista e extremista demais, mas creio que o cinema, como qualquer arte, deve levar o espectador a pensar. As coisas apenas sugeridas - e não mostradas – são prova da capacidade de um diretor de dialogar com o seu público, o que raramente acontece quando é entregado à platéia algo mastigado, pré-digerido.

A violência (não) vista em filmes como Funny Games – Violência Gratuita permanece durante muito mais tempo na nossa cabeça, ainda que não tenha passado pela nossa retina. Para entender o sofrimento de Cristo na cruz ou inquietar-se com um homem sendo morto por pancadas de um extintor de incêndio não é preciso ver tudo nos mínimos detalhes. A explicitude só faz com que as cenas se destaquem de forma negativa do conjunto dos filmes – só elas são lembradas, e não as obras como um todo. A discussão em torno vira apenas um “você viu como tal seqüência é barra-pesada?”, e o tema dos filmes (a meu ver, o mais importante) é deixado em segundo plano.

* * *

Semana passada o SESC promoveu, em São Paulo, a Mostra Roman Polanski, com toda a obra do cineasta polonês, desde os primeiros curtas até o oscarizado O Pianista. Mel Gibson e Gaspar Noé deveriam ter passado por lá, para aprender com Polanski como se pode deixar o espectador colado na cadeira, sufocado de tensão, muitas vezes sem mostrar uma única gota de sangue.

Fábio Leal @ 1:37 PM

quinta-feira, março 25, 2004

tá vendo lucia noya? eu me formei, e olha só no que deu.

há quatro anos, se você me dissesse que um dia eu pensaria em ser professora de um departamento de comunicação, ensinando uma cadeira que tivesse jornalismo no nome, eu ia rir da sua cara. hoje, eu rio da minha. pois eu penso sim. e penso muito. ainda não sou (e será que serei?) mas acho que é uma das coisas que mais desejo no momento. não que eu esteja em lua-de-mel com o jornalismo, nem tenha entrado em consenso com ele. o xis dessa questão é que ocorreu em mim uma mudança de visão e de perspectiva sobre o jornalismo, mais precisamente no fim do meu curso, após trabalhar bastante com os documentários de eduardo coutinho (diretor de cabra marcado pra morrer, santo forte e edifício master), e ter acesso a materiais em vídeo de programas televisivos que me deram um novo ânimo e uma vontade de trabalhar diretamente com as pessoas, com o que elas pensam e do jeito que elas pensam.

e foi no fim do curso que tive a oportunidade de assistir a alguns programas do "abertura" (lembrando ao leitor que o país se encontava em processo de 'abertura política' na época do programa), da extinta tv tupi, com o finado glauber rocha. cá entre nós, uma coisa fantástica. da abertura do abertura às chamadas, passando pela cabeça das matérias, até o quadro de glauber, visto hoje, o programa surpreende. surpresa mesmo foi ver um quadro em que glauber anunciava que ia entrevistar o brizola, e quando a câmera pousava na imagem do entrevistado, o que víamos era um jovem negro carioca de sorriso largo dizendo: "é, meu apelido é brizola". e daí, glauber faz desse desconhecido um conhecido do telespectador e se aproveita de toda carga que o nome 'brizola' possuía na época para levantar questões e fazer perguntas que o outro brizola não soube, ou não quis, responder. este brizola está intimidado. evita responder as perguntas sobre a política, diz que só entende de jogo do bicho e de apostar em cavalos. só que glauber não se contenta. quer puxar mais de brizola. chega a colocar o microfone na mão dele e dizer: "vamos, brizola, se assuma para o público". e mesmo depois de uma longa conversa, glauber não consegue arrancar tanto do brizola do flamengo, mas o mesmo diz: "você me pegou num dia ruim, se me chamar outro dia, eu faço melhor". e é o que glauber faz, chama brizola de novo, que aos poucos vai perdendo a timidez e redifinindo o contorno de sua imagem e de seu pensamento, deixando para trás, ou apenas como introdução, a imagem do primeiro brizola que se apresentou à câmera.

"vamos, brizola, se assuma para o público" ficou na minha cabeça. eu que já estava debruçada nos documentários de coutinho, nas suas entrevistas e na forma como ele encarava o trabalho dele. coutinho que diz que não entrevista, mas sim, conversa. na verdade, não tenho muito o que comparar glauber e coutinho (nem tenho aqui essa pretensão) a não ser essa coisa que me chama tanto a atenção que é conversar com as pessoas e fazer com que elas falem, opinem, demonstrem dúvidas, critiquem. acho que estamos acostumados a um jornalismo de fontes oficiais, celebridades, autoridades. jornalismo sem dúvidas e titubeações - não que não haja um bom jornalismo sendo feito por aí, mas estamos falando do grosso, das publicações e programas que a maioria das pessoas nas ruas sabem o nome ou de sua existência. e no meio disso tudo eu vi que o que eu procurava era um jornalismo para ouvir as pessoas, quem quer que sejam elas e o que elas pensem e deixar que elas falem, falem, falem. possibilitar "diálogos" entre pessoas que nunca se viram - e aspeio a palavra porque sei que de fato não há diálogo. o leitor não tem como dialogar diretamente com o entrevistado, mas pode dialogar com suas idéias, e melhor, pode ouvir (ler, ver) tudo, sem que seu preconceito inicial o impeça de chegar perto, e atravessar as primeiras barreiras sócio-culturais.

então me acalmei. lembro que li em algum lugar sobre o fato de não se ter como definir muito bem o que é jornalismo, e que, talvez, o mais importante não fosse descobrir o que é jornalismo, mas sim como fazer jornalismo. e passei a batizar com essa alcunha tudo que, na faculdade, me disseram que não era, ou que não deveria ser. mas isso não é feito de forma aleatória e nem batizado sem sentido. acontece que durante os cinco anos que passei dentro de uma faculdade de comunicação, pude me deparar com diversas situações que iam contra as coisas em que acreditava; desde o que os professores diziam, o que falavam os palestrantes convidados (que vez ou outra visitavam a pequena 511, no bloco a, da unicap), aos estágios, entrevistas para estágios, até conversas com quem trabalha na área. e foram nessas situações em que discuti com professores, fui reprovada (redação I, cadeira de lucia noya. é, a do título), fui chamada para conversar por uns dois ou três mestres que me disseram: "seu lugar não é aqui. desista de jornalismo", ou um "faça letras", dado como conselho por um professor mais amigável. mas no fundo a mensagem era a mesma: "tchau, simone. jornalismo não é contigo".

e vai que não é mesmo. mas agora, já era. eu tenho essa coisa aqui dentro que gosta de ir atrás das gentes para ouvi-las e quinta-feira vai ser o dia em que vou trazer pra cá o que escutei e conversei nas ruas. a notícia que nasce de onde menos se espera. o texto que tenta aproximar as pessoas mesmo que haja distância em suas idéias e dar espaço para que elas opinem, critiquem e se critiquem. e tentar parar com essa mania de subestimação das gentes. quaisquer que sejam elas. porque elas sabem das coisas.


simone jubert @ 10:55 PM

terça-feira, março 23, 2004

Além dos contos e poesias - as cartas de Ana Cristina Cesar e Caio Fernando Abreu
por Jorge Wakabara

Dois livros de cartas que foram lançados recentemente me chamaram bastante a atenção. Um deles eu já li no fim do ano passado: são as cartas de Caio Fernando Abreu endereçadas a amigos como Maria Adelaide Amaral e Hilda Hilst. Estou lendo o outro agora: se chama Correspondência Incompleta e contém cartas de Ana Cristina Cesar para três professoras/amigas. Livro de correspondência é aquela coisa: precisa ser fã ou estudioso (ou ambos) para realmente apreciar a leitura. Se você não sabe quem foi Caio Fernando Abreu ou Ana Cristina Cesar, obviamente seria melhor procurar as obras deles antes de ler os livros de cartas.

A partir do momento que você já conhece os livros dos autores e tem uma opinião sobre a criação de cada um, a leitura é deliciosa. Primeiro porque ele acaba descrevendo um pouco o processo criativo dos autores, dá algumas referências (tipo papo de amigo mesmo, "li tal livro semana passada"); mas, em tempos de reality shows, você também acaba atraído pelo gostinho de invasão de privacidade, a proximidade com o autor que você só "ouvia" em prosa e verso agora dá opinião, conta fofoca, tem inseguranças e coisas do cotidiano para dividir.

Diferenças entre os dois livros

Bom, você pode questionar se isso realmente é proveitoso, ou se esses livros não passam de uma coisa de nerd que quer saber tudo sobre o seu escritor preferido. Afinal, os livros acrescentam, e a opinião do leitor sobre os autores se transforma após a leitura?

Eu já tinha uma admiração por tudo o que o Caio Fernando Abreu escreveu(menos as peças, que eu acho meio datadas), então o livro com as cartas foi divertido a título de curiosidade, mesmo. Passou como uma Sessão da Tarde. Deu mais informações para especulação (mas então ele ficou menos depressivo depois que descobriu ser HIV positivo? ah, então ele era amigo de fulana?), mas não foi além disso.

JÁ A TIA ANA CRISTINA... Depois de ler a sua obra com os meus 18/19 anos e achar tudo aquilo ótimo, a poeta ficou com um gosto meio estranho na boca. Comecei a entrar numas pirações de achá-la meio maçante, representante do confessionalismo barato da classe média alta. Então coloquei meio de lado, como algo que já admirei e "hoje-acho-médio".

E a surpresa: deparei-me com esse livro das cartas dela num sebo, estava baratíssimo e não resisti, achando que seria algo divertidinho como foi o livro de Caio F. Abreu. Comprei e comecei a ler no mesmo dia.

De repente, comecei a reencontrar a poesia de Ana C. (ela assinava assim) que estavam contidas ali, em simples cartas. A força das frases, as questões levantadas... Aos poucos, o confessionalismo barato se tornava precioso, por ser tão humano e autêntico. Portanto, moral da história: para uma obra tão curta com tanta coisa bonita, cheia de mergulhos interessantes e subjetividades, esse livro de cartas vira um prato cheio - a correspondência de Ana C. é rica e tem poesia. Vale, tanto para quem é fã como para quem já conhece o trabalho e aprecia.

Fábio Leal @ 12:23 PM

domingo, março 21, 2004

Começar alguma coisa sempre é difícil. Acho que “a primeira vez a gente nunca esquece” justamente por isso: porque é sempre algo complicado. E essa é a primeira vez de um grupo de amigos que resolveu criar um blog/fanzine/revista para falar de sete assuntos diferentes. É uma conversa (séria) de bar. Daquelas em que as pessoas estão exaltadas, não tanto pela bebida, mas pelo teor da conversa, e querem provar a todo custo que seus argumentos estão certos. Deixando, claro, espaço para réplica (via os comments aí de baixo), e aí então uma tréplica... até o assunto morrer.

A proposta do Sete Dias é a seguinte: um tema diferente para cada dia da semana. Vejamos:
- Na segunda-feira teremos dicas de músicas e bandas desconhecidas até mesmo dos indies all star. Se são boas ou não, apenas Óculos, nosso colunista de pseudônimo oftamológico, poderá dizer.
- Terça-feira é dia de literatura por aqui. Jorge Wakabara comenta os livros e autores que ele está lendo, já leu, ou vai ler, um dia, quando acabar todos os outros 18271 que estão na fila.
- Na quarta-feira, Daniela Arrais falará sobre as novas tendências da moda com toda a propriedade de uma pessoa que consegue transformar um colar dado pela mãe num acessório chiquérrimo e disputado por todas as mulheres que a vêem.
- Quinta-feira será para as entrevistas não muito comuns de Simone Jubert, que pretende conversar e arrancar confissões de gente como o pipoqueiro da sua esquina.
- Sexta-feira, como todo mundo sabe, é dia das estréias do cinema. Portanto, nada mais coerente do que falar sobre filmes nesse dia. O autor da coluna será o mesmo desta aqui.
- Sábado é dia de música novamente. Análises de CDs, shows e as últimas notícias “sonoras” com Eduardo Viveiros.
- Finalmente, no domingo teremos Haymone Neto e sua opinião sobre os fatos políticos acontecidos no mundo ultimamente. Tudo isso com um toque de acidez, mas uma acidez do bem, esqueçam Diogo Mainardi.

Espero que seja bom pra vocês (e, mais ainda, pra gente). E que dure pelo menos um mês e um dia.

Fábio Leal @ 11:59 PM

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